sexta-feira, 27 de junho de 2008

Especialista do Unicef diz que o problema tem origem cultural sobre a forma correta de educar. Pais que não sabem dosar relação de poder correm risco de cometer abusos
Desde março de 2008, o Brasil acompanha estarrecido o desenrolar da investigação policial sobre a misteriosa morte da menina Isabella Oliveira Nardoni, 5, encontrada com sinais de violência no jardim do edifício onde mora o pai, num condomínio de classe média paulista. Como num filme de suspense, cada nova revelação sobre o caso reforça nas pessoas a mais intrigante das perguntas. Afinal, quem é o autor do crime?
Mas por trás dessa investigação e da de outros casos, como o descoberto em Belo Horizonte em que uma menina de apenas 2 anos foi raptada, segundo a polícia, para ser usada para pedir esmolas; esta é uma realidade que preocupa os especialistas no assunto: por que tantas crianças são vítimas de violência no Brasil? Para a oficial de projetos do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), responsável pela área de raça, etnia e violência, Helena Oliveira, ainda que pareça inexplicável, a violência infantil tem raízes culturais que envolvem a relação de poder entre adulto e criança e que ao longo da história foi incorporada na sociedade como a maneia certa de educar. Helena Oliveira explica que é natural que as relações entre adultos e crianças sejam assimétricas, tendo os adultos mais poder e autoridade. O problema, segundo ela, está exatamente no abuso desse poder. “Essa relação assimétrica de poder é natural da socialização. O adulto é quem tem capacidade de ajudar a criança a se desenvolver, a crescer e a se tornar um adulto pleno. O importante é saber a dosagem e o limite desse poder, para que ele não se torne abusivo e violento. Um adulto pensa duas vezes antes de agredir outro adulto, mas contra a criança é muito mais fácil agir”, diz. Estudos do Unicef apontam que, entre os tipos de violência praticados contra crianças, a negligência e os abusos sexuais são os mais comuns.

CASTIGO
Usar a violência e castigos como método de educação e repreensão também são usuais entre as pessoas, não só pais, mas também familiares, conhecidos e até professores, aponta a especialista. As palmatórias usadas antigamente nas escolas são um exemplo disso.

“Palmadas, mesmo que por trás tenham a intenção de ensinar, são ações de violência e não devem ser praticadas. É preciso desconstruir esse pensamento de que bater educa, o que já foi provado que não funciona. Mas isso leva tempo.”
A oficial alerta que a utilização freqüente da violência como método de educação pode até se intensificar com o passar do tempo, tornando o gesto cada vez mais forte, ao ponto de causar a morte da vítima.

O comportamento e pensamento da sociedade em relação às crianças começaram a dar sinais de mudanças no Brasil em 1990, com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente. É a opinião da assistente social Fernanda Martins, mestre em psicologia social e coordenadora de Políticas Pró-Criança e Adolescente da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese). “Foi nesse momento que a criança passou a ser considerada como um sujeito de diretos”, afirmou. Antes, de acordo com a assistente social, bater em crianças era um paradigma social aceitável e não gerava prejuízos para o agressor, pois não havia denúncias. “Hoje, a lei prevê punição para a pessoa que comete crimes violentos contra a criança, apesar de ainda ser pouco eficiente nessa questão. A Justiça precisa se empenhar mais para tratar os casos e punir os agressores.” Mas especialistas afirmam que a violência contra crianças ainda é um fator cultural, relacionado, principalmente, com a relação de poder entre adulto e criança e também incorporado historicamente na sociedade como uma maneira de educar.
Atitude pode ser repetição. O doutor em psicologia médica Vitor Geraldi Haase, professor de psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), atribui o comportamento violento de muitos adultos contra crianças como sendo um fator de repetição ou intergeracional, que passa de geração para geração. Segundo ele, a maioria das pessoas que comete esses crimes sofreu, quando criança, os mesmos maus-tratos. “Os indivíduos que foram maltratados ou violentados na infância têm mais chance de repetir a violência quando adultos. Porém, isso não quer dizer que toda pessoa que sofreu na infância repetirá a ação. E nem que uma pessoa sem traumas não possa cometer a violência”, afirma. Segundo Haase, em caso de violência doméstica, há uma maior facilidade de os maus-tratos acontecerem em casas que existam padrasto ou madrasta, dependendo da relação. Casais que brigam muito são mais propensos a cometer violência contra os filhos. “Cuidar de criança é difícil e requer dedicação. Os adultos têm que colocar seus interesses pessoais em segundo plano para atender aos interesses das crianças. Muitos não conseguem e negligenciam os cuidados, abusam e ou partem para a violência.” A assistente social Fernanda Martins, coordenadora de Políticas Pró-Criança e Adolescente da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social, disse que álcool e drogas, assim como uma situação vulnerável, como o desemprego, por exemplo, podem estimular a agressividade.

Um comentário:

estrela disse...

BOA NOITE PARCEIRAS. FICO FELIZ DE FAZER PARTE DA CORRENTE DO BEM COM VOCES. E NA VERDADE O NOSSO MUNDO SÓ VAI SER MELHOR QUANDO AS PESSOAS TAMBÉM FOREM MELHORES EM TODOS OS SENTIDOS. A DIVULGAÇÃO E A PREVENÇÃO SÃO AS ARMAS MAIS IMPORTANTES NO COMBATE A VDCA.

BEIJOS SOLANGE